terça-feira, 28 de julho de 2009

É, quem dera.

E o despertador tocará as 6h25, como sempre. Eu me levantarei e abrirei a janela. Colocarei o meu uniforme mais bonito e calçarei meus All Stars, recém lavados.

Andarei até o banheiro e vou passar toda a maquiagem, se der tempo, alisarei o cabelo. Vou passar perfume, o mais perfumado e cheiroso de todos: o seu favorito. Escovarei os dentes duas vezes e me olharei novamente do espelho, ensaiando meu discurso e admirando minha beleza.

Tomarei o café da manha, ignorando meu nervosismo. Darei um beijo em minha mãe, outro em meu irmão e outro na babá dele.

Assim que entrar no elevador, pegarei meu iPod e colocarer debaixo da blusa para poder ouvir no caminho para a escola. A música? Valentines Day e A Place For My Head, do Linkin Park, claro.

Quando chegar, darei um abraço em todos os meus amigos direi que senti saudades e que morri de tédio nessas férias. Conversarei com a traidora, perguntarei da viagem. Enfim, matarei a saudade de todo mundo.

Assistirei as aulas e tentarei não morrer de tédio em algumas. No recreio, comprarei a fichinha para meu almoço: um misto quente e um refrigerante.

Pensarei em várias formas de me matar na aula de inglês e então começarei a rabiscar a folha. Quando olhar no relógio, verei que só se passaram dez minutos daquela tortura. Nada contra a professora, nada contra a matéria, nada contra a aula, nada contra o inglês. É que quando junta tudo...

Acabarei escrevendo alguma coisa chata e inútil.

Finalmente a aula chegará ao fim. Agora: almoço!

Ficarei repetindo para todos que eu AMO o almoço, não pela comida, mas pelas pessoas ali presentes.

Depois de comermos, vou falar para irmos para as escadas. Eu, A, B, C, D e E vamos nos sentar na escada e conversar sobre seja o que for. É sempre divertido.

E então a aula do colegial chegará ao fim.

Aos poucos as pessoas irão descer e eu vou as observar, esperando a mais importante. Os mais importantes.

O primeiro a aparecer será o F, quando o ver, abrirei o maior sorriso do mundo e lhe darei um daqueles abraços de cinema.

Atrás quem vem é a G, a quem eu direi: “Oii!” e ela vai dizer como eu sou fofa. Eles se sentarão nas escadas conosco, tornando a passagem ainda mais complicada.

Então, H. Só levantarei meus olhos para ele, fazendo minha melhor cara de “oh-não!-ele-chegou.-que-seja,-tanto-faz”. Ele vai falar: “Olazes”. E todo mundo, inclusive eu, falaremos: “Ah. Oi.”.

I descerá a escada, apressado e sorridente, como sempre. Eu me levantarei com um pulo, seguida de B e ambas o abraçamos. Estávamos com saudades.

Conversa vai, conversa vem e o sino tocará, anunciando o fim do almoço. B se levantará, rapidamente e me chamará.

Eu esperarei C. Meu coração começará a bater mais rápido, começarei a suar frio e minhas mãos congelarão. Chegou a hora.

_H.

_Sim? – ele vai perguntar, me olhando com desdém.

E eu não vou saber o que dizer! Vai ser TÃO constrangedor...

_Eu não tenho nada para te dizer – falarei. Tentando manter a calma e o rosto impassível.

_E o motivo disso é... – ele responderá.

E eu ficarei novamente sem palavras!

_Que eu superei. A Geve que chorava por você, implorava por perdão e dizia sentir saudades infelizmente MORREU. E não voltara mais. NUNCA MAIS. Eu estou aqui agora, sei o que é bom e o que não é. Você não é bom e não me faz bem. Já fez, mas não faz mais. Eu queria poder voltar a ser sua amiga, voltar a falar com você, voltar a ter aquela coisa que você chama de amizade. Falar sobre a geometria dos sentimentos e sobre nosso futuro em Las Vegas... Só que isso não vai acontecer. Eu desisto de você e não tenho problemas em falar isso. Você, Hzão Hzóide, me fez sofrer mais do que qualquer outro ser na face da terra e de boa, sai. Você é um lixo, nojento e despresivel e TODO MUNDO PASSOU 9 MESES tentando me mostrar isso. E eu não conseguia ver. Eu era uma cega nesse mar de sofrimento e você é um idiota. SEMPRE FOI. SEMPRE VAI SER. Eu não acredito que gastei tanto tempo da minha vida vivendo feito uma curadora de museus: afogada em lembranças de uma coisa que já acabou. Porque quando acaba, termina. Não acredito que levei tanto tempo para perceber isso. E ainda consigo imaginar esse discurso acabando com ‘a verdade é que eu sinto sua falta’. Mas não vai acabar assim. Pelo simples motivo de que você não é a pessoa que me faz sentir saudades. O Hzinho morreu faz 9 anos. Quer dizer, meses. NOVE MESES. E eu fiquei correndo atrás da parte podre dele, do cadáver dele. Hoje vejo o que é isso que você é: NADA. – acabarei de falar, tremendo. Tentando me lembrar do motivo de tudo aquilo.

Ele, que me olhava distraído, perceberá que eu estava falando e perguntará:

_Hum? – como se não tivesse ouvido.

Eu explodirei de raiva.

_Vai se danar. – E irei embora, batendo o pé e ao mesmo tempo orgulhosa de mim.

Vou ter aula de português e então irei embora, para casa. Tomarei banho, farei a lição de casa... Irei e voltarei do inglês andando. Quando chegar em casa, passarei um tempinho com minha mãe e com o J, meu irmão.

Hora de dormir. E de sonhar com ele, novamente.