sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mamãe Tubarão e Seus Tubarinos



Durante a tão conhecida semana do saco cheio, viajei com minha família para Recife, terra da minha mãe.

Ficamos hospedados na casa de meus padrinhos – que moram em um apartamento beira-mar, na praia de Boa Viagem (malz, gente) -, durante oito dias.

O mais agradável era pensar que, por conta da gripe suína, todas as pessoas da minha idade estavam enfurnadas em uma classe, tendo aulas. Eu, por outro lado, já estava com as passagens compradas e infelizmente (cofcofmentiracofcof), perdi alguns dias letivos.

Durante oito dias, minha maior dúvida era escolher entre a praia e a piscina. Minha maior preocupação era passar protetor solar e, minha maior diversão era ficar lendo os 6 livros que estavam comigo (além de um virtual, de um amigo). Minha maior vontade era comer mais uma tapioca e minha principal atividade era olhar o horizonte.

Ah, creio que é possível comentar que a única forma de tortura que funcionava comigo era a de dizer que em 7 (ou seis, ou cinco, ou quatro, ou três, ou dois, ou amanhã) dias eu iria embora.

Enfim, só queria descrever o paraíso, antes de contar da nossa maior aventura em Pernambuco.

A praia de Boa Viagem é linda, e como estávamos à turismo em uma semana normal, não tenho medo de afirmar que não havia praticamente ninguém disputando nosso espaço na areia.

Sempre uso a primeira pessoa do plural, refiro-me a mim e a minha mãe, que esteve comigo durante todo o tempo (e ajudou intensamente a tornar tudo inesquecível).

Voltando ao ponto: uma coisa que nos chamou a atenção foram as placas que haviam espalhadas pela praia, com avisos de “Cuidado com o Turbarão – Zona de Ataque”.

O fato de terem tubarões na água, naturalmente, não era o problema. E sim a disposição das tais placas.

Por que, em nome de Poseidon, haviam placas na frente da casa de meus tios, mas não dez metros à frente? Por que na casa de meus tios era perigoso se nadar e, se andássemos por dois minutos, não era mais? Como que eles sabiam que os tubarões não atacariam entre os prédios vermelhos? Hein?

Como eu e mamãe não tínhamos muito o que fazer, enquanto olhávamos o Montanha pular ondas e aguardávamos ansiosamente que ele aceitasse ir para a piscina (sem vendedores ambulantes, sem areia, sem tios chutando areia em nossos rostos e, principalmente, sem crianças nos molhando ao correr), começamos a criar hipóteses para a segurança da área em que estávamos.

Depois de horas e horas de reflexão e debates calorosos, chegamos à conclusão de que a mãe tubarão combinara com os tubarinos que eles tinham uma certa área para nadar. E que não deveriam, de forma alguma, invadir o pedaço dos banhistas.

Mamãe Tubarão: “Tubara, Tubis, Tubarito e Barãozinho, podem sair para nadar, só lembrem-se de ficar entre o prédio verde e a esquina da Magalhães, que é a nossa área, sim?”
Tubarinos: “Sim, mamãe!”
Mamãe Tubarão: “Não queremos ouvir mais reclamações. E não provoquem os turistas, certo?”
Tubarinos: “Certo, mamãe.”
Mamãe Tubarão: “Especialmente você, Tubis, que eu sei que adora meter medo nos cariocas”
Tubis: “Tá, tá, tá, mãe! Já ouvi!”
Mamãe Tubarão: “Ah, voltem antes da maré baixar, não quero que vocês fiquem presos nos arrecifes!”
Tubarinos: “Mãe!”
Mamãe Tubarão: “E não falem com estranhos!”

Tínhamos certeza de que a Mamãe Tubarão usava o mesmo esquema que nós usamos com o Montanha que, por estar vivendo o auge de seus sete anos, só podia nadar em uma determinada área.


Os dias se passaram, e estávamos felizes com nossa conclusão. Até que, na quinta feira, nos instalamos em na frente de um guarda-sol com dois salva-vidas .

_Fi, que tal você ir perguntar à eles das placas?
_Ah, Mã! Que mico. Eu morro de vergonha, você sabe.
_Mas.. vai ser divertido! E vai ser engraçado! Nós queremos saber, não queremos?
_Não, não queremos. Você quer, vai você. Oras...
_Filha, fala assim, ó: “moços, eu sou nativa daqui – ela começou, afinando a voz, na expectativa de imitar a minha -, coisa que vocês podem perceber pelo tom moreno da minha pele, e estava com uma duvida.. será que vocês poderiam me ajudar? É que eu estava me perguntando o por quê da localização das placas de aviso dos tubarões.. Quinze metros adiante é perigoso e aqui é seguro? Por que? É algum acordo que vocês tem com a Tubatuba? Que ela só deve nadar em algumas áreas? Eu e a minha mãe achamos que...” e daí você conta sua teoria! Nossa teoria! Vai, Fi! Vai ser engraçado. Eles não vão achar que você está os cantando e...
_Mamãe! – choraminguei.

Ela continuou falando, tentando me convencer. Uma hora conseguiu. Contra minha vontade, caminhei até a tal barraquinha.

_Oi, moços, com licença..
_Diga.
_É que eu não sou daqui e queria fazer uma pergunta... – senti meu rosto avermelhar.
_Faça.
_Por que as placas de tubarão não estão na praia inteira? Por acaso eles atacam ali e não se aproximam daqui?
_Então.. é que, na verdade, eles estão pela praia inteira. Só que nós colocamos as placas nos lugares com menos pessoas para que possamos agrupá-las, entende? Assim aumentamos o movimento em algumas regiões, assustando os tubarões e mantendo-os longe.
_Ah, tá. Eu e minha mãe achávamos que.. – e contei nossa teoria. Eles riram.

O que me deixou mais aliviada era que não eram bonitinhos, ou jovens. Só.. salva vidas.

E isso frustrou-me, já que sempre tive aquela visão de homens lindos, gostosos, fortes e.. aiai, ocupando esse posto.

Agradeci e voltei para minha esteira. Contei para mamãe de minha descoberta e ambas concordamos que nossa teoria era MUITO mais legal e que eles estavam mentindo para nós.


Honestamente? Fiquei com saudade da Mamãe Tubarão e de seus tubarinos.

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